JGP

A JGP é uma tradicional gestora de recursos e de patrimônio brasileira com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nosso compromisso de longo prazo é aliar retornos consistentes com o gerenciamento de risco ativo, visando preservar o capital investido por nossos investidores.

Comunicação

Mídia, Special Situations
icone voltar Todas as notícias

Fundos distressed recheiam carteira de precatórios e NPLs

Capial Aberto |16.08.2024

Enquanto alguns segmentos sofrem em meio a um macro adverso e taxa de juros a dois dígitos, os fundos distressed se beneficiam de cenário revolto. Se por um lado pressiona muitos ativos, por outro, a turbulência econômica gera oportunidades de compra para gestoras deste tipo de fundos em setores que passam por dificuldades. No entanto, nem todo ativo barato e estressado é sinônimo de bom negócio. No início do ano, as expectativas eram positivas para as compras no agronegócio, por exemplo, o que acabou não se confirmando e fez os gestores terem que “rebolar” para se reposicionar.

Até agora, o ano é misto em relação ao portfólio dos fundos distressed, de acordo com gestoras consultadas. Não houve concentração de um setor ou um ativo específico, embora oportunidades tenham surgido aqui e a acolá em alguns setores e os precatórios e os NPLs (Créditos Não Produtivos, na tradução livre) tenham entrado na carteira de todas as gestoras consultadas.

A JGP, por exemplo, que criou seu primeiro fundo special situation em 2021 e atualmente possui quatro deles, após a estruturação de seu flagship, também conhecido como fundo-mãe ou carro-chefe, percebeu a necessidade de montar veículos monotemáticos com teses que demandavam mais recursos, tendo incluído na carteira ativos como precatórios federais alimentares, legal claim privado, ações judiciais privadas, NPLs e pré-precatório federal.

“O último fundo que montamos, o quarto, foi um de pré-precatório federal. A gente voltou a botar o pé no risco federal, considerando aquele susto da emenda constitucional 113 e da 114, que acabou”, comenta Luiza Oswald, sócia e responsável pela área de Special Situations da JGP, que acrescenta. “Em outubro do ano passado, a gente lançou o nosso segundo flagship, que é o JGP Estruturado III. Esse fundo já está 46% investido, somos muito abertos aqui no Special Sits. Não escolhemos muito as oportunidades que chegam”, complementa Luiza, citando que tudo depende da operação e do retorno.

Ao longo do ano, a sócia da JGP diz que que não houve uma preferência por ativos de um setor específico. Embora tenha havido oportunidades para a JGP no agro, setor que tem passado por dificuldades e apresentado grande número de Recuperações Judiciais (RJs), muitas delas foram relacionadas ao produtor rural, o que não faz tanto sentido para a gestora. “O produtor rural é muito ligado ao plano safra, então fica muito difícil dentro do Special Sits fazer uma operação com ele cobrando as taxas que o Special Sits demanda”, aponta. “Eu não posso competir com o Banco do Brasil, por exemplo. Se deu problema na safra do produtor, ele se endividou e tudo mais, se eu cobro dele uma taxa de 30% ao ano, ele não consegue nem colher a soja, o algodão, o que for, não consegue replantar, porque a margem dele é muito pequena.”

A JiveMauá, gestora conhecida pela atuação em distressed que possui cinco fundos do tipo, também se reposicionou em relação ao agro após ter iniciado o ano com uma visão positiva para a compra de ativos no setor. Depois de alguns estudos aprofundados sobre o agro, que está passando por uma “quebradeira”, a gestora viu esse cenário se prolongando e passou a tentar fazer previsões do que seria a safra para os anos seguintes, o que acabou se deparando com um cenário de perspectiva ruim. Com clima bom para produção nos Estados Unidos e uma demanda represada na China, as commodities brasileiras acabam sendo afetadas. Essas variáveis acabaram fazendo com que a JiveMauá adaptasse um pouco a alocação de capital para segmentos que estejam mais correlatos com o cenário.

“Não dá para contar com um ciclo de melhora. A gente opera ciclos, geralmente vê uma atividade num ciclo ruim, com ativos que precisam ser recuperados e ela precisa ir para um ciclo positivo no momento seguinte, porque você vai ter uma volatilidade ou liquidez a favor, gerando oportunidade de ganhos, acordos, reativação de empresas etc”, diz Mateus Tessler, sócio responsável pela área de Distressed da JiveMauá. “Se esse cenário não se concretiza, a gente sempre faz a nossa classificação não considerando melhora nenhuma, mas fica mais difícil. Ficamos procurando setores ou lugares ou pedaços da economia onde essa realidade, essa volatilidade vão operar.”

Com isso, a gestora começou a aumentar um pouco mais a capilaridade em precatórios, após o Supremo Tribunal Federal (STF) revalidar a regulação; comprando créditos contra companhias solventes; e também nos “bons e velhos NPLs”. Em relação a setores, a JiveMauá é agnóstica. “O que temos preferido buscar agora são reestruturações em empresas que têm ativos um pouco mais sólidos. Caso essa reestruturação não aconteça, temos um ativo para garantir minimamente um retorno”, aponta Tessler. “Tem coisas em infraestrutura, em energia, e a gente fez algumas alocações como essa na compra de crédito de empresas de energia, renovável, óleo e gás, aterro sanitário, e outras atividades em que conseguimos ver um horizonte com um pouco mais de perenidade.”

Por outro lado, a Strategi, que recentemente criou seu segundo fundo distressed, tem adotado uma estratégia ligeiramente diferente e aproveitado a onda no agronegócio e imobiliário para adquirir ativos. Embora seja agnóstica em relação à setor, os dois segmentos acabaram se sobressaindo nas oportunidades de compra. “Realmente, houve uma boa safra de situações muito concentradas no mercado imobiliário e no de agronegócio. Isso é uma questão, em geral, eu falo com meus peers, com meus concorrentes, houve, de fato, grandes oportunidades nesse setor. E acho que tem mais para vir”, opina Cristian Lara, sócio-fundador da Strategi Capital.

Segundo Lara, a gestora tem tido um foco bem relevante de atuar no nicho que poucas estão fazendo hoje. “Você tem muita gestora focando em fazer os grandes deep finance do mercado, que são os financiamentos para empresas que estão passando por um processo de restauração via recuperação judicial. A gente tem focado em fazer essas operações para empresas menores. Acabamos desembolsando alguns deep finance para RJs de produtores rurais, com o objetivo de dar funding para aquele empresário plantar para a próxima safra e conseguir, com isso, restaurar os seus balanços”, conta o sócio.

No segmento imobiliário, a gestora está com quatro operações. São projetos que deram errado, onde há, muitas das vezes, financiamentos bancários que não passaram, pagos, ou famílias que compraram imóveis e não têm mais condição de pagar o financiamento e que não querem mais ter aquela unidade.

“Nessa conjuntura, temos situações em que há uma incorporadora com problema, pessoas físicas que muitas vezes querem o seu apartamento e querem continuar pagando, outras que não têm condição de continuar aportando, não querem mais o apartamento. A incorporadora não tem condição de destratar com aquelas pessoas físicas. Ou seja, vira um negócio que precisa de alguém, e aí não é só capital, precisa de alguém que tenha capital e know-how para juntar os interesses desse negócio”, analisa Lara.

Do ponto de vista dos principais ativos, a Strategi também está olhando para NPLs e precatórios. “O nosso trabalho aqui hoje é NPL. Só fazemos isso. A gente faz precatórios, de forma menor, para um fundo específico que a gente trabalha. São compras de precatórios pontuais para empresários que fizeram acordos para se reestruturar e negociaram poder entregar precatórios para poder pagar as suas dívidas fiscais.”

Rentabilidade e estratégia

Na visão dos executivos, é difícil cravar uma rentabilidade para fundos distressed porque os ativos são quase todos marcados a preço de custo. Então, na verdade, não dá para ver na cota o retorno de cada um dos ativos. Devido à sensibilidade, entretanto, é comum ver, ao longo do ano, um retorno negativo para a maioria dos fundos pesquisados. Levantamento elaborado pela Economática, que considera os fundos com o termo “distressed” no nome, dos 18 veículos levantados, 7 estão com um retorno positivo, ainda que discretos.

“No fundo de Special Situations só conseguimos ‘tirar uma foto’ dele no final, quando você consegue retornar o recurso todo ou até antes, quando você consegue retornar o recurso todo investido. Acho que mais vale dizer, olha, a gente já amortizou 45% e faltam
ainda 55%”, explica Luiza.

Entre os negativos, estão alguns fundos da JiveMauá, que comenta fazer parte da estratégia. “É estratégia. Uma das estratégias que a gente aprendeu a fazer é swapar dívida por equity, e eu tenho preferido swapar por empresas listadas. A gente fez alguns movimentos com isso. Teve um pouco de fuga de capital de estrangeiro, dada toda essa volatilidade macro que a gente viveu, então recentemente teve um pouco de volatilidade contra a cota”, aponta Tessler.

O executivo reitera que é difícil levar a cota como indicativo, mas que a volatilidade é “turbulência de avião”. “Você tem que apertar o cinto, ficar seguro. Vai chegar no seu destino, desde que você tenha paciência para aguentar algum chacoalhou.”

Enquanto isso, a Strategi afirma que a performance de seus fundos está positiva. O primeiro fundo, de dois anos de investimento e quatro anos para devolver o capital com a possibilidade de estender mais dois anos, já devolveu quase 20% ao longo de oito meses. “A rentabilidade hoje está, desde o primeiro aporte, em 50%. Essa rentabilidade não captura todo o esperado do nosso portfólio. A gente espera entregar para os nossos investidores 25% ao ano nesse fundo, líquido”, conta Lara.


Compartilhar: