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Com forte demanda, fundo de crédito privado enfrenta escassez de papéis atrativos

Valor econômico |09.09.2024

Com a forte procura dos investidores por fundos de crédito privado, a oferta de emissões de dívida das empresas, embora alta, não consegue corresponder à demanda, e os prêmios contidos nos papéis estão muito pouco atrativos. Com isso, os gestores que
costumam aplicar boa parte da carteira em crédito privado vivem um dilema diante da relação entre risco e retorno. Alguns estão fechando os fundos para captação e outros têm preferido manter o dinheiro em caixa, mas cresce uma preocupação de que o risco pode aumentar em algumas carteiras.

As emissões de debêntures neste ano já somam R$ 256,8 bilhões, um recorde. Apesar disso, são insuficientes para absorver a demanda, já que nem todo esse volume vai efetivamente para fundos. Os fundos de renda fixa captaram R$ 256 bilhões no mesmo período, sendo R$ 241,6 bilhões para aqueles com pelo menos 10% de exposição a crédito privado, segundo dados da Anbima. O forte fluxo levou os fundos com alguma exposição a crédito a alcançar mais de R$ 2,6 trilhões em patrimônio líquido em julho.

Com isso, o prêmio médio pago acima do CDI saiu de 2,3% há um ano para 1,7%, segundo dados da gestora JGP. A combinação de forte demanda e baixos prêmios não era vista desde 2019, segundo Alexandre Muller, sócio da JGP, que optou por fechar a captação de 95% dos produtos de crédito para não elevar caixa e diluir cotistas.

O interesse maior por crédito é influenciado pela taxa básica de juros e pelo grande movimento de saída dos fundos multimercados, mas também por mudanças regulatórias neste ano, que restringiram as emissões de papéis incentivados, como certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio, e reduziram prazo para alguns títulos bancários. A taxação de fundos fechados exclusivos também afetou a migração de recursos.

A Porto Asset também decidiu fechar os fundos em uma das plataformas com maior fluxo para não ter de compensar o menor spread com mais risco na carteira. O fundo já está com o nível máximo de caixa, em cerca de 40%. “Existe uma perspectiva de pouca emissão e a captação deve continuar forte. O cenário de Selic não reverte essa perspectiva”, diz o gestor da Porto, Ricardo Spindola.

Alguns especialistas observam a atual situação com cautela. O temor é que as carteiras acabem aceitando aplicar em papéis de empresas que possam enfrentar problemas, como já ocorreu no passado. Outra questão é que algumas operações acabam saindo com cláusulas de garantias ao investidor mais brandas.


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