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MídiaRégia, de BB Asset e JGP, quer ser ‘hub’ de capital ESG
Proposta é atuar como plataforma de investimentos sustentáveis, com produtos de crédito, ações, private equity, agro e “blended finance”, que une recursos públicos, de fomento ou filantrópicos a capital privado.
A gestora criada a partir da associação entre JGP e BB Asset, que em apenas cinco meses de operação soma R$ 3 bilhões sob administração, acaba de ganhar nome e sobrenome: Régia Capital. A ideia é ser uma plataforma de investimentos sustentáveis, com produtos de crédito, ações, private equity (compra de participações em empresas), agronegócio e “blended finance” (financiamento misto), que une recursos públicos, de fomento ou filantrópicos a capital privado. Prestes a iniciar a captação de dinheiro no exterior, a previsão é que a Régia encerre o ano com R$ 7 bilhões sob gestão e chegue ao fim de 2025 com R$ 20 bilhões.
O nome vem da vitória-régia, planta típica da Amazônia, mas também remete ao verbo reger, diz José Pugas, até então chefe da área de sustentabilidade da JGP e agora diretor de sustentabilidade da Régia. “A marca fala muito da ambição do projeto, uma gestora nova que vemos de forma mais ampla. A maior parte das casas segue trabalhando com nichos”, diz Alexandre Muller, sócio-gestor dos fundos de crédito da JGP que vai acumular o cargo de diretor-executivo da Régia. “Nosso objetivo não é só conseguir boa rentabilidade para os fundos. Somos um ‘hub’ de soluções de capital”, acrescenta.
O acordo com a JGP que deu origem à nova gestora foi idealizado por Denísio Liberato, presidente BB Asset, maior gestora do país, com R$ 1,6 trilhão sob gestão, e anunciado em janeiro, dentro do projeto do banco estatal de fomentar o segmento de ESG (sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança) no Brasil. Os fundos de crédito privado da JGP foram os primeiros a serem transferidos, mesmo caminho que todos os que se enquadram nos critérios socioambientais vão trilhar.
“Nosso objetivo não é só conseguir boa rentabilidade para os fundos”
— Alexandre Muller
A Régia também lançou uma família de fundos própria, chamada Equilíbrio, com espelhos na rede do BB: um para varejo e private, outro adequado para institucionais e uma versão previdenciária, em outubro. Para o início do ano, planeja um de dividendos de ações orientadas ao segmento. Com os produtos e migrações, do total de R$ 5,8 bilhões captado pelos fundos que se enquadram na classificação IS (investimento sustentável), da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), de janeiro a julho, a Régia foi responsável por 37% (R$ 2,15 bilhões).
De acordo com Liberato, a gestora vai entrar com estruturas que não cabem no balanço de um banco. “O Banco do Brasil tem grande capacidade de originar ativos com pegada verde e acessar diferentes tipos de investidores, inclusive organismos multilaterais, por ser um banco estatal”, diz. Entre os estrangeiros, Muller afirma que as conversas estão em estágio avançado para o primeiro trimestre de 2025, tanto com bancos de desenvolvimento quanto com multinacionais que querem investir na descarbonização das suas cadeias produtivas. Estão planejados veículos “offshore” de acesso às estratégias e um fundo de crédito de carbono.
Na semana passada, um importante passo foi dado pela Régia nesse sentido, com a vitória em concorrência do BNDES, em conjunto com a Ore Investments, para gerir um fundo focado em minerais críticos e estratégicos, que são importantes para a transição energética por serem usados, por exemplo, em motores de veículos elétricos, painéis solares e baterias, mas podem enfrentar escassez, regulações comerciais e instabilidade política, entre outros. O fundo terá investimentos de R$ 500 milhões da BNDESPar e Vale e as sondagens iniciais com investidores mostram um potencial de atingir R$ 2 bilhões em médio prazo.
Entre os pilares da Régia, explica o diretor de sustentabilidade, estão, além de carbono, bioeconomia, transição da infraestrutura e da agricultura tradicional para a regenerativa. Como a demanda de investidores internacionais é muito focada em energia renovável, com base nos problemas de matriz mais frequentes nos países ricos, Liberato explica que uma das missões da Régia tem sido puxar esse interesse para outros setores. “Entendemos que essa demanda seja forte no Norte Global, mas não é o maior desafio no Brasil”, diz. “Temos vantagens competitivas que queremos fomentar, como a nossa grande diversidade e inovação no setor agrícola”, completa.
Muller comenta que um dos desafios da Régia será pensar em fundos sob medida, e com a visão de programa, não de projeto. “Tem que ser escalável, replicável e sustentável no tempo.” Um exemplo é o fundo de R$ 1 bilhão feito para a Belterra Agroflorestas, com meta de recuperação de 40 mil hectares até 2030, que, para baixar o custo médio ao tomador, teve composição de capital filantrópico, concessional (dinheiro com subsídio, de organismos multilaterais, por exemplo) e regular de mercado, com carência para pagamento de juros.
“A sofisticação do nosso mercado financeiro, a diversidade de produtos e a regulação eficiente são condições que não encontramos em outros emergentes. Nos planos regulares de financiamento as soluções são engessadas”, diz ele. Segundo o sócio-gestor, o dinheiro regular de mercado é remunerado a CDI mais 5%, por exemplo, mas com esse mix de fontes de recursos o custo ao tomador fica perto das fontes oficiais, 100% do CDI ou da NTN-B.
Os executivos esperam uma presença cada vez maior de investidores internacionais. Isso porque, explica Pugas, como os mandatos eram muito altos, em muitos casos há regras que limitam exposição a um fundo ou uma gestora. Como a Régia vem crescendo rapidamente e está focada em aumentar a escala dos projetos, consegue se enquadrar nas restrições. “O estrangeiro tem mais segurança diante do tamanho da Régia”, diz Liberato.
Mas, afirma o presidente da BB Asset, encontrar bons projetos escaláveis, que possam ser preparados para captar no mercado, vem sendo difícil. Uma das ferramentas para driblar essa deficiência tem sido treinar funcionários do Banco do Brasil de diversas regiões. “Não há escassez de projetos, mas precisamos transformá-los em ‘investíveis’. É um processo que demora de três meses a um ano”, explica.
O acordo prevê que algumas estruturas serão compartilhadas entre JGP e Régia, que também terá equipe própria. Hoje são 11 com dedicação exclusiva e previsão de contratação de mais oito até março de 2025. Além de Muller, Márcio Correia, sócio-gestor dos fundos de ações da JGP, vai acumular a função na Régia, assim como o time de análise de ações e crédito. A área de inteligência ESG da JGP migrou para a Régia, assim como a equipe de Pugas na JGP. Com R$ 42 bilhões sob gestão, a JGP está na lista das únicas dez gestoras no mundo que participam de todos os principais compromissos climáticos firmados desde a COP de Glasgow e tem posição mais alta no ranking Deforestation Action Tracker em LatAm. O BB é o melhor banco no ranking.