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Para montar suas carteiras ESG, gestoras escolhem ações ‘ao gosto do freguês’

|10.08.2022

Elas lançam mão de métodos próprios para fazer a seleção dos papéis. Localiza e Natura estão entre as ‘queridinhas’

Por Eliane Sobral, Especial Para O Prática ESG — São Paulo

O mercado brasileiro de fundos de investimentos com o selo ESG ainda é incipiente no Brasil, especialmente quando comparado ao volume movimentado na Europa e nos EUA.

Segundo levantamento da Global Sustainable Investiment Alliance, no mercado americano, US$ 17 trilhões em ativos gerenciados por fundos têm estratégias sustentáveis, o que representa 38% do total investido naquele país. Na Europa, os investimentos ESG correspondem a 42% do total de ativos sob gestão na região.

No Brasil, como a definição da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em relação aos critérios necessários para um fundo ser classificado como ESG foi feita só recentemente, saber qual é a participação no total ainda é um desafio.

Os gestores estimam que seja menos que 5%. Ainda assim, já há empresas que podem ser apontadas como as “queridinhas” dos gestores e que estrelam as carteiras de quase todas as casas. Natura, Localiza, Vale, Petrobras, EDP são exemplos.

Se estes papéis são quase uma unanimidade entre gestores, na hora de escolher quais comporão as carteiras ESG, cada um segue sua própria metodologia.

— Nem todo mundo escolhe da mesma forma, porque não tem uma maneira universal. E os preceitos que envolvem o ESG são amplos, complexos e não se analisam todas as dimensões e contornos por uma planilha de Excel — afirma Fabio Alperowitch, fundador da Fama Investimentos, com R$ 1,5 bilhão sob gestão e um dos mais longevos defensores dos investimentos sustentáveis.

Na gestora que fundou em 1993, diz Alperowitch, a avaliação de quem é considerado ESG ou não leva em conta não apenas o compromisso e os resultados obtidos, mas principalmente o contraditório que envolve cada negócio.

A locadora de automóveis Localiza é um exemplo que Alperowitch gosta de citar para ilustrar como funciona a lupa com a qual a Fama olha suas candidatas a investimentos.

— Alguém pode dizer que é incoerente. Mas o que eu olho é que a Localiza tem muitos desafios e o que eu vejo é como ela está lidando com cada um deles — afirma Alperowitch, citando alguns exemplos do raciocínio, como o fato de 98% da frota da companhia usarem biocombustível e o uso de lavagem a seco para a higienização de quase 400 mil carros como forma de economizar água.

Já a Natura, apontada como símbolo das práticas ESG por muitos analistas, não está na carteira da Fama. Para Alperowitch, a companhia tornou sua operação complexa com a internacionalização e comprou a Avon, que demanda um trabalho de renovação, riscos que ele não quer correr. Suas preferências recaem sobre Klabin, Raia Drogasil e MRV, além da Localiza.

Veto em comitê

Alexandre Gazzotti, analista de ESG na Itaú Asset, também usa metodologia própria para avaliar quais empresas farão parte de suas carteiras, além das estimativas de impacto financeiro. Mas há, diz, quase um corpo a corpo para classificar o estágio em que a companhia se encontra na jornada sustentável.

A participação em assembleias de acionistas, por exemplo, é importante fonte de informação para os analistas da Itaú Asset.

— Ali é possível acompanhar se a política de remuneração é pouco transparente. Ou se os executivos estão sendo incentivados a bater metas de curto prazo em detrimento das de longo prazo, que são mais importantes para a sustentabilidade do negócio — exemplifica Gazzotti.

O executivo é membro do comitê de crédito da Itaú Asset, o que lhe dá poder de veto. Em média, diz ele, algo entre 5% e 10% do que é apresentado a este comitê são vetados, sempre sob a ótica dos padrões ESG. Em 2021, 100% dos R$ 724 bilhões em ativos foram submetidos a esses critérios.

Política de remuneração do alto comando das companhias e a independência de seus conselhos de administração também estão no centro das análises da Santander Asset, de acordo com Luzia Hirata, gerente desta divisão do banco espanhol.

A metodologia em que as análises se baseiam, diz, foram desenvolvidas globalmente pela instituição e recebem um filtro local. À disposição, um banco de dados com informações de empresas do mundo todo, coletadas pela empresa espanhola Clarity.

Um ranking com notas, que variam de um a cem, é realizado por inteligência artificial, considerando critérios desde o impacto da guerra na Ucrânia até desafios que determinado setor enfrenta e o desempenho individual de cada companhia. Uma vez por mês as notas são atualizadas.

Ainda que cada gestor tenha seu próprio método de avaliar investimentos ESG, em pelo menos um ponto há convergência entre elas: as informações prestadas estão longe do ideal.

— Nos últimos dois anos, as companhias estão se posicionando e falando muito. Mas ainda precisam ser mais transparentes — avalia Luzia.

Ricardo Fernandez, sócio-fundador da Signal Capital, que seleciona gestores para investimentos de private equity, lembra o caso de um gestor com o qual a Signal investia desde 2014 e que foi retirado do portfólio de produtos devido à superficialidade das informações prestadas, sobretudo em governança.

Há dois meses, a Signal fez um levantamento junto aos 20 fundos mais relevantes em private equity e concluiu que as informações com maiores níveis de dispersão foram as relativas ao “G” da sigla ESG, ou seja, de governança.

Esse não é um problema exclusivo do Brasil, frisa Marcella Ungaretti, sócia e líder de Research ESG na XP. Em apenas 34% das Bolsas no mundo, a divulgação do relatório de sustentabilidade é obrigatória. No Brasil, ainda não é mandatória e, entre as que divulgam o documento, não há padronização de dados, afirma a executiva.

Para melhorar o nível de informações, os gestores têm usado a estratégia de engajamento com algumas investidas, chamado no mercado de stewardship, o que, na prática, significa que se aproximam das empresas e tentam, junto com sua alta gestão, trilhar a jornada das melhores práticas.

— Estamos muito próximos de algumas empresas, trabalhando junto para que resolvam problemas que impactam na reputação e até na remuneração — diz Marcos di Tullio, sócio da JGP Investimentos.

Contestação em ata

Em abril passado, JGP protagonizou um caso ainda raro no Brasil de contestação pública entre investidores e empresas investidas. Na assembleia de acionistas, a JGP não apenas votou contra a remuneração proposta ao Conselho de Administração do Assaí Atacadista, como solicitou que sua manifestação constasse na ata da assembleia.

A JGP considerou o valor, de R$ 43 milhões, muito acima dos padrões do mercado e, ainda, desproporcional às receitas estimadas pela empresa.

— São poucos os casos em que desinvestimos, mas acontece. Fazemos a lição de casa juntos, como no caso dos frigoríficos, que demoram a endereçar as questões de desmatamento. Se a gente acha que as empresas não avançam, há outras opções no mercado — afirma Tullio.

Estratégia para cada perfil

Existem diferentes estratégias para se fazer investimento ESG, e elas variam conforme o filtro usado na análise por parte do gestor ou do investidor para escolher os ativos da carteira.

De todos os investimentos disponíveis, há quem comece excluindo alguns setores, enquanto outros preferem selecionar ativos de áreas específicas na largada. Tem quem observe o esforço da empresa na jornada ESG e ainda os que só aplicam em companhias geradoras de impacto positivo.

Conheça as diferentes estratégias:

  • Integração ESG : abordagem que considera na análise dos ativos filtros socioambientais, como gestão do uso da água, emissões de gases de efeito estufa, diversidade de equipes etc., ao lado de fatores financeiros para analisar riscos futuros e oportunidades.
  • Investimento com filtro negativo : abordagem de investimento que não aplica — nunca — em empresas cujas receitas são provenientes de setores controversos, como tabaco, jogos de azar e/ou combustíveis fósseis.
  • Investimento inclusivo : gestor prioriza empresas mais alinhadas com práticas ambientalmente ou socialmente sustentáveis em uma ou mais vertentes.
  • Investimento de impacto: busca investir em empresas cujos produtos ou serviços promovam impacto social e/ou ambiental positivos no longo prazo.

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