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Mercado eleva cautela com expectativas de inflação

Valor econômico |10.04.2024

É com ares de preocupação que uma parte relevante do mercado tem visto o cenário prospectivo de inflação, o que já começa a ecoar nos preços dos ativos e nas expectativas para a condução da política monetária. Na ponta, os agentes já incorporam em suas projeções de inflação um cenário que compreende um mercado de trabalho bastante aquecido e uma atividade econômica firme, o que começa a se refletir na dinâmica das expectativas inflacionárias, tanto no Boletim Focus quanto nos preços de mercado. A consequência, na visão dessa parcela do mercado, está na leitura de que o desafio para o Banco Central aumentou, o que pode levar a taxa Selic a cair menos que
o esperado.

O mercado tem dado alguns sinais de alerta quanto ao cenário inflacionário, que se avolumaram recentemente. A alta das expectativas dos economistas de mercado no Focus para o IPCA de 2025, de 3,51% para 3,53%, cristalizou a sensação de um ambiente inflacionário mais salgado, que já era observado nos últimos dias entre os analistas. O Focus deu informações adicionais: a média subiu de 3,60% para 3,62%; e, entre os economistas que mudaram projeções nos últimos cinco dias, a mediana das estimativas subiu de 3,54% para 3,60%.

Nos preços dos ativos financeiros, os primeiros sinais de alerta mais fortes começaram aser vistos na semana passada. Após um ano em que houve uma redução relevante da inflação “implícita”, que é extraída dos ativos financeiros, os futuros de cupom de IPCA (DAPs) passaram a indicar uma inflação de 4,02% neste ano (ante 3,87% uma semana antes) e de 4,97% em 2025 (ante 4,83%), de acordo com dados da Warren Investimentos.

Para Denis Ferrari, gestor de renda fixa da Kinea Investimentos, o movimento recente de alta da inflação “implícita” liga o sinal de alerta, pois pode respingar nas expectativas do Focus. “No início do ano, o movimento era de redução nas projeções de inflação de 2024
e, assim, os economistas vinham mantendo suas estimativas de 2025 paradas. O cenário de agora é o oposto e as projeções parecem ter começado a subir. Isso pode começar a se refletir no Focus de 2025, o que criaria um cenário mais complicado para o Banco Central estender muito o seu ciclo de cortes”, afirma.

Além da reaceleração da inflação de serviços vista nas últimas leituras do IPCA e em um momento no qual a atividade econômica e o mercado de trabalho estão acima do potencial, Ferrari destaca o fato de o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos estar nas mínimas recentes. Nesse sentido, na visão da Kinea, cenários com Selic abaixo de 9% parecem irrealistas no momento. A gestora, inclusive, projeta um corte de 0,5 ponto no juro básico em maio, seguido de ajustes menores, de 0,25 ponto, com taxa de 9,5% no fim do ciclo.

Na semana passada, casas como Santander, Bradesco Asset Management e ASA Investments, que tinham visão mais otimista com o ciclo de juros, passaram a adotar posições um pouco mais conservadoras, diante de um ambiente que contempla uma atividade econômica resiliente, mercado de trabalho apertado, alta dos preços das commodities e incerteza quanto ao início do ciclo de redução dos juros nos Estados Unidos. Todas passaram de 8,5% para 9%.

“Eu tinha a impressão de que, neste ano, estaríamos vendo o melhor momento da inflação, enquanto o IPCA de 2025 me preocupa mais”, diz o economista-chefe da JGP, Fernando Rocha. “A inflação baixa de bens industrializados ajuda neste ano, temos visto os IGPs negativos puxados por bens industriais, inclusive, mas tem uma parte de serviços bem pressionada e que tem a ver com o mercado de trabalho, que ainda está bem aquecido.”

Rocha tem mantido há algum tempo um cenário mais conservador, que abarca a Selic em 9,5% no fim do ciclo. O economista se mostra particularmente preocupado com alguns sinais de aceleração da inflação de serviços subjacentes neste momento. “A cada ‘print’ do IPCA parece acelerar e isso só reforça a preocupação que eu tenho. Por isso, talvez, o mercado tenha começado a migrar um pouco para a nossa visão”, afirma.

“Se o Focus começar a subir, o BC vai ter um problemão para manter o ciclo de corte de juros” — Bruno Serra

“No melhor momento, a minha projeção para o IPCA deste ano chegou a 3,7%. Agora eu estou com 4,1% e tenho muita dificuldade de ver a inflação ficar abaixo de 4% na minha planilha. A soma das pequenas ‘mexidas’ nos dados está dando mais inflação, não menos. E isso me preocupa em relação a 2025 se essa tendência permanecer”, alerta. Para o IPCA do próximo ano, a JGP mantém a projeção de 4%, mas com viés altista. “Os elementos que compõem a inflação [de 2025] tendem a ser mais pressionados. O limite para o BC seria uma expectativa de 4,5%, que estaria no limite de tolerância da banda da meta de inflação. Se, por acaso, em algum momento, houver uma ameaça desse número passar de 4,5% ou se o Focus caminhar para isso, o BC seria forçado a agir, mesmo com a mudança no sistema de metas para algo contínuo e mesmo com uma mudança na composição [do BC]”, enfatiza.

Assim, Rocha, que pensou no início do ciclo em reduzir sua projeção para a Selic, mantém a estimativa parada em 9,5%, mas, agora, com viés levemente altista.

O ex-diretor do BC Bruno Serra Fernandes, gestor da Itaú Asset Management, se mostrou cauteloso com a alta da inflação “implícita” e possíveis reflexos no Focus. “Nós começamos a colocar um risco das expectativas de inflação para este ano e para o próximo subirem no Focus”, disse o gestor em “live” da Itaú Asset, na segunda-feira. O cenário positivo, na visão de Serra, ocorrerá se os dados de inflação e emprego nos EUA vierem menos apertados e os juros americanos começarem a cair em junho, o que aliviaria as expectativas de inflação. Já um cenário negativo seria se o BC ignorasse os sinais das implícitas e as expectativas do Focus subissem. “Se o Focus começar a subir, ele vai ter um problemão para manter o ciclo de juros”, afirmou Serra, ao alertar, ainda, para possíveis pressões do mercado sobre a autoridade monetária durante o período de transição no comando e de discussões, até mesmo, para elevações na Selic.

Da mesma forma, durante evento do Bradesco BBI na semana passada, André Raduan, sócio e gestor da Genoa Capital, também mostrou preocupação com a dinâmica das expectativas de inflação e o atual ciclo de cortes. “Hoje o Focus está 3,5% [para 2025].

Eu não conheço ninguém com menos de 3,5% para o ano que vem. Provavelmente, vamos caminhar para um número mais perto de 4% – e isso é questão de tempo. O BC vai continuar cortando juros [com as expectativas] 1 ponto acima da meta? Eu acho complicado. Acho difícil até mesmo o mercado comprar essa tese, porque, se ela começar a surgir e tivermos 9% de Selic com inflação de 4% – ou até mais -, o câmbio vai andar”, alertou o gestor.

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