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Lula e leitura de Haddad isolado ampliam percepção de risco nos mercados locais

Valor econômico |13.06.2024

O resultado foi um aumento de prêmios de risco em todos os mercados. No câmbio, o dólar fechou em alta de 0,86%, negociado a R$ 5,4066, maior nível desde 4 de janeiro de 2023, após ter subido à máxima de R$ 5,42. Os juros futuros voltaram a disparar e, diante do tom pessimista dos agentes, o mercado precifica uma retomada agressiva de elevações na Selic até o fim do ano. Já o Ibovespa voltou a ficar abaixo dos 120 mil pontos, ao cair 1,40%, para 119.936 pontos.

A piora no humor doméstico se mostra ainda mais acentuada quando confrontada com o desempenho pujante dos mercados globais. Os números de inflação abaixo do esperado nos EUA foram fortes o suficiente para deixar a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em segundo plano. A sessão de ontem terminou com as bolsas americanas em forte alta e queda firme do dólar e dos juros dos Treasuries.

“Antes até poderíamos falar dos juros americanos, mas, agora, temos outros motivos para a nossa performance abaixo dos pares. O que está no centro disso é a nossa questão fiscal”, diz o CIO da SulAmérica Investimentos, Luis Garcia. Para ele, não é mais possível “terceirizar a culpa”. “Está muito fácil descobrir onde está o problema.”
Para Garcia, após o estresse nos mercados que se intensificou desde sexta-feira, a expectativa dos agentes era que o presidente Lula fizesse algum aceno público para fortalecer Haddad, ao reconhecer as dificuldades de cumprir as metas fiscais, mas reafirmar o compromisso. “O que vimos hoje [ontem] foi exatamente o contrário. Vimos o presidente falando que o país vai crescer e que, com isso, haverá mais arrecadação e, portanto, não será necessário cortar gastos. É o contrário do que se esperava que se fosse dito”, enfatiza.

Em declarações dadas no FII Priority Summit, encontro internacional de líderes e executivos para debater oportunidades de investimento capazes de propiciar crescimento sustentável aos países, Lula afirmou que seu governo está “arrumando a casa” e colocando as contas públicas em ordem. “O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a apacidade de investimento público”, disse o presidente.

“A coisa segue muito feia no mercado local e estamos em uma crise. Várias matérias ao longo do dia dizendo que Haddad estaria enfraquecido, com fogo amigo dentro do próprio partido querendo prejudicá-lo. O Lula teve a oportunidade de fazer uma defesa
do ministro e do seu papel de controlar os gastos públicos, mas não fez isso”, afirma Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital. “A gente precisa que o Lula venha em defesa do Haddad e traga alguma cartilha da intenção de segurar os gastos. Caso
contrário, não vamos sair dessa espiral negativa”, afirma.

O gestor avalia que, há alguns meses, o Brasil estava em um ambiente em que era suficiente “apenas não fazer nenhuma besteira” para ser arrastado por uma melhora global. “Parece que batemos contra uma parede agora. Precisamos fazer algum dever de casa e remar na direção correta para voltarmos a desempenhar em linha com os mercados globais”, afirma.

E essa piora, observa Portella, se dá ao mesmo tempo em que a desconfiança com os emergentes aumentou, após eleições no México, na Índia e na África do Sul. “O investidor global olha para esses países e simplesmente opta por reduzir sua exposição a mercados emergentes. Por que ele vai olhar para emergentes se o mercado americano segue nas máximas?”, questiona Portella.

Visão semelhante é defendida por Eduardo Cotrim, sócio e gestor da JGP, que conseguiu navegar de forma positiva pela turbulência recente nos mercados. Ele revela que a gestora tinha posições compradas em dólar contra real (aposta na valorização do
dólar) e posições tomadas em juros de longo prazo, que ganham com a alta das taxas.

Ontem, inclusive, a taxa do DI para janeiro de 2029 encerrou a sessão em 12,155%, pela primeira vez no ano acima da marca de 12%.
“Os queridinhos emergentes eram México e Índia, onde as eleições desapontaram. Com a classe de emergentes cheia de problemas e de dúvidas e o retorno da renda fixa americana nas alturas, a ideia de que o dinheiro possa vir para o Brasil não para em pé, até porque vemos muitos questionamentos aqui sobre a nossa política fiscal e dúvidas sobre se o arcabouço vai ou não continuar”, diz Cotrim. Para ele, inclusive, a devolução da MP do PIS/Cofins é “emblemática”.

“A agenda do Haddad não propõe cortes de despesas e deixa toda a conta para o setor privado. Chega uma hora em que o bolso do empresariado dói e, pelo visto, essa hora chegou. A conta ficou salgada demais. E isso mostra que estamos chegando a um momento em que a postura de manter gastos e deixar o setor privado pagar a conta está se exaurindo. O mau humor vem daí. As despesas estão muito grandes, as discussões do Orçamento daqui a pouco já começam e, até agora, não temos um panorama mais nítido de como a questão fiscal será tratada”, afirma Cotrim.

Após ter conseguido surfar parte do movimento de piora dos ativos, Cotrim diz ter zerado as posições em ativos brasileiros, mas ressalta que não tem vontade de alocar no real ou nos juros domésticos, apesar da piora recente. “Estou sem apetite. Nosso viés é de que ainda está muito cedo para apostar a favor. Temos muitas dúvidas no ar e as questões de incerteza não são apenas no Brasil”, enfatiza o gestor da JGP.

Para ele, seria preciso ter uma melhora expressiva no sentimento externo para dar apoio a uma visão mais benigna interna. “As taxas de juros muito altas nos EUA elevam o sarrafo para os investidores estrangeiros alocarem risco em mercados emergentes porque diminuem a necessidade de busca por alternativas dado o retorno que têm lá. E isso é perceptível já nos leilões de títulos prefixados etc. E, por aqui, a desconfiança no mercado é alta com a queda de popularidade do Lula, além de outros fatores, como o Fla-Flu no Copom, a mudança na diretoria da Petrobras… Tudo suscita muita dúvida”, pontua Cotrim.

Vale notar que, na sessão de ontem, as ações ordinárias da Petrobras caíram 2,10% e as preferenciais tiveram baixa de 2,41%, após a presidente da empresa, Magda Chambriard, indicar que a companhia irá utilizar “todos os recursos para investir no Brasil”.

“Desde o governo Bolsonaro, muito se mudou o presidente da empresa, mas pouco se mudou na empresa de fato. Estamos acompanhando com receio [as mudanças de discurso], já que não é a primeira vez que isso ocorre, mas ainda acreditamos que é ruído”, afirma o chefe de pesquisas da Guide Investimentos, Fernando Siqueira.

Ao avaliar o cenário como um todo, ele defende que o momento pede um posicionamento mais defensivo até que haja maior visibilidade do cenário, ao ter em vista, em especial, a percepção de enfraquecimento de Haddad. “Uma eventual saída dele poderia abrir espaço para o governo gastar ainda mais”, diz Siqueira. “E o discurso do Lula também não agradou porque mostrou que o diagnóstico em relação ao fiscal continua equivocado.”


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