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MídiaJuros futuros fecham em queda com fator técnico e fala do presidente do BC
Por Valor Econômico
Por Felipe Saturnino, Valor —
Ao fim da sessão regular, às 16h, a taxa do DI para janeiro de 2022 passou de 4,76% no ajuste anterior para 4,66% e a do DI para janeiro de 2023 variou de 6,65% para 6,46%
As taxas dos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam a terça-feira (30) em queda firme, num movimento causado por uma correção técnica dos juros, que se ajustaram, após a forte alta de segunda (29) causada pelo temor com o Orçamento de 2021, e pelas falas do presidente do Banco Central (BC), Roberto
Campos Neto.
O chefe da autoridade monetária afirmou, em evento organizado pelo Banco Daycoval, que o início do ciclo de alta da Selic com uma dose mais forte pode fazer com que o ciclo total de elevação de juros seja menor, ressaltando que o BC tem como plano de voo apenas um ajuste parcial da taxa básica, conforme ele expôs na semana passada, durante coletiva do Relatório Trimestral de Inflação.
Ao fim da sessão regular, às 16h, a taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 4,76% no ajuste anterior para 4,66% e a do DI para janeiro de 2023 variou de 6,65% para 6,46%. Já a taxa do DI para janeiro de 2025 caiu de 8,26% para 8,11% e a do DI para janeiro de 2027 se retraiu de 8,83% para 8,72%.
Com isso, a curva perdeu ligeira inclinação em relação a segunda (29), quando o spread dado pela diferença entre as taxas de janeiro de 2027 e janeiro 2022 era de 4,075 pontos percentuais. Ao fim do pregão de hoje, era de 4,06 pontos.
Em evento virtual promovido pelo Banco Daycoval, Campos Neto afirmou que a alta mais forte inicial da Selic pode fazer com que o ciclo total de elevação da taxa básica seja menor.
“Nós entendemos que fazer um movimento mais forte [de alta de juros] aumentava a eficiência (…) e fazia com que a alta total pudesse ser menor”, disse Campos Neto, em referência ao início do ciclo de normalização da Selic com uma dose de elevação de 0,75 ponto. “Falamos em normalização parcial basicamente por acreditar que o movimento [da inflação] que estamos vendo tem um caráter temporário.”
De acordo com um operador de renda fixa de uma corretora estrangeira, que prefere não ser identificado, “pelo conjunto da obra”, a fala de Campos Neto fez
preço na curva de juros, principalmente na ponta curta. “Ele reforçou que o BC está comprometido com uma normalização parcial dos juros e que o ajuste vai ser menor do que o que o mercado precifica hoje”, diz o profissional. “Campos Neto também voltou a falar em pressão temporária da inflação, e o mercado começa a botar no preço que um ajuste tão forte não vai acontecer.”
Segundo a precificação extraída da curva de juros, o mercado implica, hoje, nos preços uma Selic próxima de 6,5% ao fim do ano — os modelos do BC apresentados tanto no comunicado do Copom quanto na ata usaram uma taxa bem menor, de 4,5%, para o final de 2021.
Em relação ao Copom de maio, as apostas têm sido reduzidas ao longo dos últimos dias: há exatamente uma semana, eram de elevação de 100 pontos-base da Selic;
ontem, de 95 pontos-base e, hoje, chegaram a 91 pontos-base — o que significa, ainda assim, que o mercado dá 64% de chance para uma alta de 1 ponto e 36% para uma de 0,75 ponto. A precificação para a reunião de junho do comitê, atualmente, também é de 91 pontos-base.
“É difícil ser preciso [sobre quanto o mercado precifica] porque tem sempre o prêmio de risco na curva”, diz Fernando Rocha, economista-chefe da gestora JGP.
“Mas eu diria o seguinte: se todo mundo acreditasse que a Selic vai parar em 6,5% [no fim do ano], a curva precificaria um pouco mais do que tem hoje pelo prêmio de risco”, afirma ele, explicando que o valor de 6,5% funciona como um ponto-médio entre as apostas de investidores aplicados em taxas (aposta na queda) ou tomados (aposta na alta).
Apesar de repercutir os efeitos das falas de Campos Neto durante a tarde, os juros abriram a sessão desta terça já em queda, justificada por analistas de renda fixa e profissionais de mesas de operações como um movimento guiado principalmente por fatores técnicos, dado que, na véspera, o temor de um estouro do teto de gastos levou estresse ao mercado. “As taxas estão muito esticadas e abre espaço para um alívio nesse nível”, diz o profissional da corretora estrangeira.
Segundo o Banco Fator, permanece a desconfiança dos investidores sobre a peça orçamentária. “Os participantes do mercado oscilam entre confiança com o
afastamento do impeachment, o que impediria o avanço das reformas, e desconfiança sobre os destinos do orçamento, com o sacrifício do teto em nome de sólido piso para o Congresso”, escreveu José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco, em nota a clientes.
Leia a matéria original do Valor Econômico aqui.