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MídiaGestoras aumentam foco sobre crédito privado no exterior
Em meio à exuberância do crédito privado no mundo, que, segundo o Fundo Monetário Internacional chegou a US$ 2,1 trilhões em 2023 após crescer a uma taxa de 20% ao ano desde 2018, gestoras brasileiras começam a correr para garantir seu quinhão no segmento no exterior. A combinação de juros altos em vários países, altíssima liquidez, e spreads (diferença paga pelos títulos em relação ao seu título público de referência) bastante reduzidos desde fevereiro no mercado doméstico vem elevando as apostas.
Para Albano Franco, sócio e gestor de crédito da SPX Capital, há uma mudança de paradigma e o filão é “a nova fronteira do crédito privado”.
“A oportunidade que se desenha agora na renda fixa global é nova e pode ser grande, com os juros ao redor do mundo tanto nominais quanto reais em um outro patamar. Tudo que nós brasileiros vivemos há muito tempo”, diz.
Franco revela que a gestora está formatando um fundo 100% de crédito global, primeiramente direcionado a clientes private de Europa e Estados Unidos e, em um segundo momento, a institucionais (fundos de pensão, seguradoras, empresas) e multifamily offices brasileiros, que já têm parcela de suas carteiras no exterior. “Vamos pegar o investidor pela mão e levar para o offshore.”
Nikolau Muller, sócio responsável pela análise de crédito da JGP, afirma que, com a redução dos spreads no Brasil e o elevado nível de juros lá fora, a tendência é que a alocação offshore aumente, em busca de assimetrias. Ele diz que a elevação recente da curva das projeções de juros nos Estados Unidos aumentou, do ano passado para cá, a participação de títulos de empresas americanas porque o diferencial para os papéis latinos ficou menor. “Os spreads ficaram equivalentes e havia casos até de empresas americanas que pagavam mais que seus equivalentes latinos. Aproveitamos para explorar mais o mercado dos Estados Unidos.”
Mas Muller comenta que a atuação é bastante seletiva porque, no geral, os spreads estão abaixo da média histórica nos Estados Unidos, apesar de os juros dos títulos americanos estarem altos. “Os papéis de empresas são predominantemente prefixados, uma dinâmica diferente do mercado brasileiro, então lá acabamos mais expostos ao cenário macro.”
Ele afirma que a gestora cresceu com força no mercado de crédito local e já soma R$ 10 bilhões na estratégia – a fatia do exterior é de apenas 10% do volume no momento. A JGP tem o Pegasus, 100% offshore, com papéis predominantemente de América Latina, mas que também pode investir no mercado dos EUA e que representa hoje 30% da carteira no exterior. Os investidores são institucionais e multifamily offices.
Já a SPX incrementou seu processo de internacionalização em 2016, quando os principais sócios foram morar em Londres. Em julho de 2019 mais um passo foi dado nessa direção, com a criação da área dedicada a crédito e lançamento do carro-chefe local, o Seahawk. Em 2021, veio o Seahawk Global e, um pouco depois, sua versão previdenciária. Mas foi em 2023 que o segmento ganhou corpo na gestora, quando o time deixou de cuidar das carteiras de crédito que compunham os multimercados da SPX e passou a se dedicar exclusivamente a seus fundos.
Hoje o Seahawk de crédito local tem R$ 2,5 bilhões de patrimônio. E o global e o de previdência, R$ 400 milhões. Em dezembro, a gestora lançou também um fundo de debêntures incentivadas, ainda pequeno, com R$ 70 milhões. Por ser renda fixa, a volatilidade fica abaixo da registrada em fundos multimercados, por exemplo. A do Seahawk local é de 0,5% a 1% e do Global, 2,5%, enquanto a dos multimercados gira em torno de 6% a 7%.
Franco vê um contrassenso no Brasil, que, diante da redução dos spreads das debêntures das empresas com mais alta avaliação de crédito, tem exposição baixa ao exterior. “Todos pensam em partir para os fundos de investimento em direitos creditórios [FIDCs] e esquecem que vale a pena explorar risco mais líquido no exterior.” Hoje um quarto dos 280 colaboradores da SPX já é baseado fora do Brasil, em quatro países (Portugal, Inglaterra, EUA e Singapura), sendo metade de estrangeiros.
“Emprestar dinheiro para grandes empresas via debêntures já alcançou a maturidade no Brasil. O segundo passo, que é explorar oportunidades similares na América Latina e emergentes em geral, ainda é muito específico entre institucionais brasileiros, que buscam ações no exterior, mas não olham um bond centenário da Petrobras, por exemplo”, diz Franco.
O executivo da SPX lembra que o título público brasileiro, por causa das altas taxas de juros, é uma espécie de ímã de capital, mas frisa que o mercado offshore tem muito mais liquidez e instrumentos de atuação, como alavancagem e venda a descoberto.
“Esperamos que o mercado brasileiro evolua nessa direção e se torne mais rico em possibilidades.” A SPX tem dois grandes times de mercado de crédito. O que fica baseado em Nova York é focado em países desenvolvidos e o de Portugal e Brasil, emergentes. “Os investidores estrangeiros carecem de expertise na renda fixa de emergentes.”
Na Absolute, o mercado externo tem sido usado para complementar o portfólio, porque, segundo Stefan Castro, gestor de crédito privado, permite sair da dinâmica do mercado local de fechamento e abertura de spreads. No entanto, afirma, não está no radar da gestora a criação de um fundo 100% offshore ao menos para este ano.
Entre os produtos da Absolute, um dos fundos que podem alocar no exterior é o Olimpia, criado no fim de 2022, com papéis da América Latina e uma parcela menor crédito corporativo nos Estados Unidos e em emergentes, com patrimônio de R$ 260 milhões e investidores concentrados em institucionais e multifamily offices.