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Mídia‘É possível proteger ambiente e ofertar boa rentabilidade’, diz BB Asset sobre nova gestora em parceria com JGP
Segundo Denísio Liberato, empresa terá “olhar especial” para investidores que conseguem fugir da tentação de comparar investimento com o CDI diário
Dois pesos-pesados se juntaram para criar uma gestora focada em fundos sustentáveis. BB Asset e JGP anunciaram nesta segunda-feira a parceria cujo objetivo é ampliar a oferta desses produtos, em especial para investidores estrangeiros. Em entrevista ao Valor por e-mail, Denísio Liberato, presidente da gestora do Banco do Brasil, e Alexandre Muller, um dos sócios da JGP que estarão à frente da nova asset, afirmam que é viável gerar retorno aos investidores por meio de ativos que sigam os critérios ESG (sigla em inglês representa sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa).
“Iremos proporcionar alternativas de investimento que vão demonstrar, na prática, que é possível proteger o meio ambiente e ofertar produtos com boa rentabilidade, simultaneamente”, afirma Liberato. “É um mito que os investidores precisem abrir mão de rentabilidade para investir em produtos ESG”, completa Muller.
Liberato destaca os recentes avanços do Brasil na questão regulatória, com o lançamento da taxonomia brasileira, e a regulamentação do mercado de crédito de carbono. “Outro ponto importante é um olhar especial para os investidores que possuem um horizonte temporal de retorno mais dilatado e que conseguem fugir da tentação de olhar e comparar o investidores que possuem um horizonte temporal de retorno mais dilatado e que conseguem fugir da tentação de olhar e comparar o investimento com o CDI diário”, acrescenta o presidente da BB Asset.
O acordo comercial, que levou quatro meses para ser concluído, foi assinado por meio de instrumento de dívida que poderá ser convertida em ações daqui a 23 meses cujo valor não foi revelado. Segundo as duas empresas, a gestora, ainda sem nome definido, terá estrutura física separada, sede no Rio, equipe própria e mandato exclusivo para o desenvolvimento de produtos e estratégias. A ideia é atuar em diferentes segmentos, entre eles crédito líquido e estruturado, ações, private equity e agronegócio.
A BB Asset é a maior gestora do país, com 2,75 milhões de cotistas e R$ 1,5 trilhão sob administração. Já a JGP, que tem mais de R$ 35 bi sob gestão, completou 25 anos de fundação em 2023 e hoje é referência no país em ESG (sigla em inglês representa sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa) entre as gestoras independentes.
No Brasil, o mercado ESG engatinha: estudos mostram que o país tem pouco mais de 200 fundos enquadrados nas práticas sustentáveis, enquanto Europa tem mais de cinco mil e Estados Unidos, 600. As estimativas são de que a transição global para padrões compatíveis com o Acordo de Paris demandará de US$ 5 trilhões a US$ 7 trilhões por ano até 2050. Relatório da McKinsey calcula que, até 2050, as gestoras serão responsáveis por oferecer de US$ 950 bilhões a US$ 1,5 trilhão por ano em oportunidades ligadas ao clima no mundo.
Valor: O mercado ESG ainda é incipiente, embora o país seja reconhecido internacionalmente como uma potência em meio ambiente. Onde está o problema? Na atuação do mercado financeiro ou das empresas?
Denísio Liberato: Recuperando a função clássica do sistema financeiro, que é de direcionar recursos dos agentes superavitários para os deficitários, e adicionando os problemas derivados da assimetria de informações, responderia que há aspectos a serem aprimorados de ambos os lados. As empresas, por exemplo, têm um belo espaço para melhorar a qualidade das informações que divulgam, inclusive das iniciativas internas dos projetos de descarbonização. Além disso é importante familiarizar os líderes das empresas com conceitos como os de carbono zero, transição energética, letramento racial, dentre outros.
O mercado, por seu turno, precisa criar os produtos que reflitam os riscos e oportunidades que a transição energética nos coloca. Estes ainda são escassos na indústria de fundos. Outro ponto importante é um olhar especial para os investidores que possuem um horizonte temporal de retorno mais dilatado e que conseguem fugir da tentação de olhar (e comparar) o investimento com o CDI diário. Inclusive, na parceria, iremos proporcionar alternativas de investimento que vão demonstrar, na prática, que é possível proteger o meio ambiente e ofertar produtos com boa rentabilidade, simultaneamente.
Valor: Há condições para taxas competitivas, que garantam ganhos expressivos para os investidores e atraiam recursos, ou o investidor deverá abrir mão de rendimento em prol da importância dos princípios ESG?
Alexandre Muller: É um mito que os investidores precisem abrir mão de rentabilidade para investir em produtos ESG. A agenda ESG reflete a busca pelo equilíbrio entre os stakeholders, fundamental para a sustentabilidade de médio prazo das companhias investidas. Há inclusive potencial de elevação de retornos financeiros em empresas e projetos ESG, como via operações de captura de créditos de carbono ou a elevação de múltiplos de ações de empresas que engajem em iniciativas corretivas associadas a inconformidades e controvérsias.
Valor: O comunicado oficial sobre o acordo com a JGP cita que a ideia é criar “um novo padrão em investimentos responsáveis”. Como será?
Liberato: Uma dimensão do novo padrão seria a de, por exemplo, escalar projetos que têm sido customizados em operações entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões. Para que mais investidores possam participar, o montante das operações teria que ser bem maior. O Banco do Brasil, que acabou de ser reconhecido pela 5ª vez com o prêmio de banco mais sustentável do mundo, será uma bela fonte de originação para tais transações.
Valor: Como o Brasil está posicionado no mercado internacional de ESG? As práticas estão alinhadas ou o país está aquém?
Liberato: O Brasil é um dos países mais bem posicionados para a transição ecológica, pois possui claras vantagens comparativas em setores ligados ao clima, como energia limpa, hidrogênio, mineração e agricultura.
Na questão regulatória estamos avançando com o lançamento da taxonomia brasileira, a regulamentação do mercado de crédito de carbono e a adoção pela CVM, em caráter pioneiro e com efeitos a partir de 2026, das normas do ISSB (International Sustainability Standards Board), que tem o propósito de integrar os relatórios financeiros e de sustentabilidade. Do lado do engajamento dos investidores, existe um bom espaço para ser ocupado.
Valor: A nova gestora pretende focar em algum investidor em especial, como fundos de pensão internacionais ou soberanos? Haverá produtos voltados à pessoa física também?
Muller: Nosso objetivo é escutar a demanda de cada canal de investimentos e avaliar que tipo de produto integrado ESG podemos desenvolver, considerando também todas as sinergias de originação de oportunidades, estruturação e captação que a BB Asset e JGP podem oferecer conjuntamente. Nesse sentido, esperamos contar com fundos adequados a investidores de diferentes tipos e estratégias, desde que alinhados à agenda ESG.
Valor: A atuação da JGP na área vinha sendo no sentido de buscar as empresas para financiarem a transição de suas cadeiras produtivas. Em crédito a ideia é seguir essa linha?
Muller: Em crédito, nosso foco está em soluções de capital. Essas soluções podem passar por financiamento de cadeias produtivas atrelados a compromissos de sustentabilidade, emissões certificadas e fundos mais complexos, como os FIDCs de blended finance (combinação de dinheiro não reembolsável, vindo de filantropia, bancos de fomento ou organismos multilaterais, com capital remunerado de investidores). Nosso compromisso estará na alocação de recursos humanos e de inteligência para efetivamente canalizar capital para o financiamento de externalidades para além do lucro financeiro.
Valor: No caso das alocações em ações, a ideia é ter participação ativa nos conselhos, assim como faz a Previ e o BB?
Liberato: Tanto a JGP quanto a BB Asset já vinham desenvolvendo uma agenda de engajamento alinhada aos objetivos de desenvolvimento sustentáveis, o que pode ser feito com outros stakeholders das empresas investidas, como diretores, conselheiros e funcionários. Combinando forças, essa agenda ganha potencial para influenciar outros investidores a se juntarem a essas iniciativas.
Valor: Há algumas críticas sobre o maior peso dado ao mercado ao meio ambiente do que ao social entre os princípios ESG. A nova gestora pretende atuar de que forma?
Liberato: Eu diria que o maior peso se deve ao fato de que os modelos de riscos relacionados aos aspectos ambientais já estão mais consolidados, inclusive com séries temporais mais robustas. Isso permitiu concluir que risco climático é risco financeiro.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU também serão impulsionados na parceria, inclusive com perspectivas de recebimento de capital catalítico, mas a questão da diversidade terá foco. A desigualdade de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro explica muito da nossa desigualdade de renda, limita crescimento econômico e comprime valuations.