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MídiaDebênture sem isenção volta com prazo mais longo após turbulência
Esforço de empresas vem depois de um ano em que a aversão ao risco limitou emissões com prazos maiores
As empresas brasileiras devem voltar neste ano a testar o apetite dos investidores por debêntures institucionais com vencimentos mais longos, depois de um ano em que a aversão ao risco limitou emissões com prazos maiores.
Na média, o prazo dos títulos institucionais, ou seja, os que não oferecem isenção fiscal ao investidor, até avançou de 2022 para 2023, passando de 5,1 anos para 6,3 anos, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Mas, na prática, poucas operações saíram com prazos mais esticados, como sete ou dez anos, dizem gestores.
O primeiro desses “testes” será da transportadora de gás NTS. A companhia deve captar nesta semana R$ 8 bilhões com uma operação em três séries com prazos de cinco, sete e dez anos. Os recursos serão utilizados em uma operação estruturada que envolve a compra de títulos de dívida dos acionistas da companhia. A liquidação deverá ocorrer na sexta-feira.
O ano passado foi muito ruim para o mundo das debêntures corporativas por conta dos eventos envolvendo Americanas, Light “e mais uma lista [de empresas com dificuldades financeiras] que ficou maior que o esperado”, explica Evandro Buccini, gestor de crédito privado da Rio Bravo Investimentos.
Essa piora do cenário vista principalmente no primeiro semestre de 2023 teve vários efeitos no mercado de debêntures institucionais. O primeiro foi a redução dos volumes de emissão. Em seguida, veio o encolhimento dos prazos. Em um ambiente mais estressado, investidores como bancos ficaram receosos com a capacidade das companhias de cumprirem com as suas obrigações e fecharam um pouco as torneiras. Os fundos também pararam de captar e ficaram mais restritos em novas alocações.
Nesse contexto e até mesmo para conseguir sanar suas necessidades de recursos mais imediatas, as empresas optaram por reduzir os prazos. No ápice da crise, em março, emissões que em um cenário de normalidade teriam vencimento em cinco anos passaram a ter prazo de três ou dois anos.
“Durante essa fase de recuperação de crédito, as companhias buscaram não ficar amarradas por muito tempo em uma operação pagando taxas tão altas”, diz Alexandre Muller, sócio e gestor de crédito privado da JGP, lembrando que os spreads de crédito ficaram em patamares elevados em 2023. “Como o custo da empresa estava alto, ela acabou preferindo fazer uma operação pagando a mais por um período mais curto, na esperança de que os spreads voltariam e que ela poderia acessar novamente o mercado.”
Neste ano, se os spreads começarem a convergir para a média histórica, os prazos devem ficar mais longos, diz Muller. “Se o ciclo continuar a melhorar, a tendência é exatamente essa.”
As primeiras companhias que irão atrás de captações mais longas serão as com rating mais alto, as também chamadas de “triple A”, e as com fluxo de caixa mais previsíveis, disse Guilherme Ceneviva, responsável pela área de dívida local do UBS BB, em evento do banco realizado no fim de janeiro. “Depois delas, quem tem uma qualidade de crédito um pouco abaixo vai começar a testar novos limites.”
De maneira geral, Muller acredita que 2024 será um ano positivo para o mercado de debêntures, considerando o cenário macroeconômico com a continuação do ciclo de queda da Selic, o início do corte dos juros nos Estados Unidos, uma inflação mais controlada e a redução das incertezas políticas, com a aprovação de medidas importantes no Congresso.
Buccini também espera um ambiente melhor neste ano. “Com a taxa de juros caindo, mas ainda em patamares altos, devemos ver o fluxo de dinheiro voltando para os fundos de crédito, que é a condição necessária para o mercado de dívida melhorar”, diz.
De forma consolidada — considerando também as debêntures incentivadas —, o prazo médio dos títulos aumentou de forma expressiva em 2023, indo de 6,25 anos para 8,58 anos. O aumento é explicado pela maior participação no mercado das debêntures com isenção, que costumam ter vencimentos mais longos. Em 2022, o prazo médio dessas operações era de 12,7 anos. Em 2023, passou para 14,3 anos.