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MídiaConheça os fundos de investimentos ESG ou de impacto disponíveis no Brasil
Por Valor Investe
Por Naiara Bertão —
O ano de 2020 foi recheado de novos lançamentos de produtos que vão de equidade de gênero, ações de empresas ambientalmente responsáveis e companhias focadas em água e energia solar. Em 2021, novos devem entrar no radar dos investidores
O ESG ou ASG, siglas para se referir a questões Ambiental, Social e de Governança, nunca esteve tanto na boca do investidor e da indústria financeira como um todo. Até o ator Robert Downey Jr. (conhecido por ter interpretado o super-herói Homem de Fero) disse que está apostando em produtos do tipo. Em uma reunião virtual do Fórum Econômico Mundial, em 27 de janeiro, anunciou o lançamento de fundos de investimentos que têm o objetivo de apoiar empresas que desenvolvem modelos de negócios e tecnologias para desafios apresentados pelas mudanças climáticas.
Um levantamento da área de tendências do Google mostrou que o interesse pelo conceito ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance ou, na tradução, Ambiental, Social e de Governança) atingiu seu ponto mais alto dos últimos cinco anos no Brasil. O Google Trends mostrou ainda que globalmente o tema nunca foi tão buscado quanto em 2020. No ano passado, também foram recorde as buscas por “investimento ético” em nível mundial e, no Brasil, chegaram a seu nível mais alto dos últimos cinco anos.
Não é à toa. Em ano em que temas como saúde, ciência, globalização, solidariedade e conscientização ambiental deixaram as páginas de jornais e revistas e foram parar nas rodas de conversas das pessoas, era de se prever que haveria repercussões.
O volume total de recursos na temática sobe à medida que muitos novos produtos surgem (temos abaixo uma lista com mais de 40 fundos e ETFs) e o investidor vê os benefícios e compreende o produto.
Mas até um tempo atrás era difícil imaginar que gestoras de investimentos se comprometessem a tornar filtros ESG obrigatórios em suas teses de investimentos. E que empresas passassem a olhar para métricas de emissão de carbono, diversidade de gênero e raça em seu quadro de funcionários e matérias-primas usadas em seus produtos e serviços com a importância que o tema foi levantado internamente.
Mais difícil ainda seria prever a quantidade de novos produtos financeiros com a temática social, ambiental e de responsabilidade corporativa que seria lançada no mercado brasileiro, para investidores de todos os portes, inclusive os pequenos.
Para Maria Eugênia Buosi, presidente da consultoria de sustentabilidade Resultante, que tem 14 gestoras de investimentos entre os clientes, há um conjunção de fatores que levou a esse “boom” ESG em finanças. O primeiro deles é que, finalmente, o mercado financeiro parece ter entendido que investir em ativos sustentáveis não apenas dá mais resultado no longo prazo, como diminui o risco das carteiras.
“Gestoras estão mais interessadas em compreender as questões ESG por alguns motivos. Um deles é a tese de investimento cada dia se provando mais certa. Em 2020, 95% dos índices de sustentabilidade performaram melhor que os índices de bolsas que não adotam esses critérios. Isso nos diz que, as empresas que estão olhando para o ESG são, de alguma forma, mais resilientes que seus pares de mercados”, diz Maria Eugênia, que participou de live do Valor Econômico. Ela foi uma das analistas do fundo Ethical, a primeira grande referência do tipo no Brasil, criado em 2001 pelo então Banco Real e reformulado este ano pela equipe do Santander.
“Romper o dilema de que ESG não dá dinheiro foi um importante passo para também atrair mais investidores ao tema e puxar consigo as empresas, que precisam se adaptar a essas novas demandas do mercado.”
“Temos 15 assets no portfólio e um percentual significativo de fundos de investimento e fundos de pensão e o que vemos é que de fato eles querem entender o que é isso e estão reconhecendo que não é um selo, não é ‘zero a 100’ em 4 segundos, que é uma jornada e todo mundo está tentando aprender”, comenta a executiva.
Prova disso são casos como o da JGP e do Santander Asset que encorparam a lista de gestoras que usam critérios ESG em todas as análises de ativos das carteiras de investimentos. As gestoras Indie Capital e Brasil Capital também já aderiram aos critérios de sustentabilidade para a seleção de ativos
. Itaú, Fama e Constellation já fazem a mesma coisa há anos. O Bradesco anunciou em agosto passado a criação de um ranking para identificar as empresas de seu portfólio que mais investem de acordo com as melhores práticas ESG.
Entre as plataformas, o Warren está em processo para incluir outros fundos temáticos como ESG em crédito e fundo de impacto. Ela já tem dois: um com foco em empresas com boas políticas de equidade de gênero e outro que investe em ações, ETFs e BDRs ‘verdes’. A XP, além de fundos, anunciou em junho de 2020 que vai destinar R$ 100 milhões para fomentar a indústria de produtos ESG, incentivando as assets.
O BTG Pactual também investiu na temática em 2020. Não apenas lançou o fundo BTGP Sustentabilidade ETF FI Ações, que investe 100% no ETF Índice S&P/B3 Brasil ESG da B3 (também lançado em 2020 pela instituição), como também criou uma área de investimento de impacto no banco. O objetivo é fomentar a criação de produtos e serviços que unam retorno financeiro com impacto socioambiental positivo.
“Acreditamos que é possível ter retorno financeiro e colaborar para uma agenda de desenvolvimento sustentável”, disse o banco ao Valor Investe. Em novembro passado, lançou ainda a estratégia Landscape Capital, que se dedicará a soluções climáticas naturais a partir da compra de terras devastadas brasileiras e de outros países da América Latina para reflorestamento com mata nativa. A área de emissão de títulos de dívida verde também cresce.
Outra prova de mudanças é a própria B3 que decidiu reestruturar os índices ISE B3 (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e ICO2 B3 (Índice Carbono Eficiente) para torná-los mais atrativos ao investidor e anunciou uma parceria com a Standard & Poor’s (S&P) e criou o índice S&P/B3 Brazil ESG. A intenção é lançar um índice ESG com as empresas listadas no mercado brasileiro. A bolsa estuda ampliar ainda mais o portfólio sustentável.
Crescimento
No fim de janeiro de 2020, o Valor Investe mapeou mais de 40 fundos de investimentos, incluindo ETFs, dentro da temática sustentável ou que direcionam parte da taxa de administração a projetos sociais. No levantamento anterior, feito em julho do ano passado, tinham sido identificados apenas 9.
Entre os últimos lançados no mercado, a XP lançou dois agora no início de março: Fundo XPA ESG e o XP Investor ESG. No caso deste último, um fundo de ações ativos (primeiro do tipo da casa), foi aplicado um filtro de sustentabilidade nas 100 companhias que a asset da XP analisa e daí escolhidas as principais companhias que seguem critérios ambientais, sociais e de sustentabilidade. Ele entra também na composição de um fundo de fundos que a XP havia lançado em 2020, o Selection ESG.
Já o “Fundo XPA ESG”, anunciado pela XP Private em 2 de março, é composto por outros fundos de ações, renda fixa e multimercados, de gestoras locais e estrangeiras, entre elas Quasar, Brasil Capital, JGP, Constellation no Brasil e BlackRock, Nordea e Systematica no exterior. Porém, é oferecido apenas para investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão). O produto pode, posteriormente, investir diretamente em outros ativos ligados à temática (não é um fundo de fundos apenas).
Em janeiro de 2021 o Safra entrou na área com seu Safra Impacto ASG, produto tem como foco ativos de renda variável selecionados a partir de critérios sustentáveis.
Em dezembro havia sido o Itaú que trouxe novidades. A gestora do banco, que já adota critérios ESG como filtro para colocar ativos nas carteiras dos fundos, lançou três produtos temáticos no assunto sustentabilidade. São eles: o Carteira Itaú Internacional ESG, o Itaú ESG H2O Ações e o Itaú ESG Energia Limpa Ações.
Renato Eid, superintendente de estratégia beta e integração ESG do Itaú Unibanco, explicou em entrevista ao Valor Investe que os produtos vieram da necessidade dos clientes, que buscam uma maior diversificação de carteira, incentivados pela taxa Selic baixa, em 2% ao ano.
Para ele, há dois principais grupos de investidores: os que não querem ou não sabem fazer uma seleção balanceada e preferem já aplicar em uma carteira pronta (para eles, criou o Carteira Itaú Internacional ESG) e aqueles mais sofisticados que sabem o que precisa para compor o portfólio e querem estratégias específicas (a quem são indicados o Itaú ESG H2O Ações e o Itaú ESG Energia Limpa Ações).
“Temos visto uma maturidade maior dos clientes, que demandam produtos ESG e queríamos atender. E conseguimos endereçar duas dores em uma só: juntar dois temas importantes de sustentabilidade – água e energia renovável – à diversificação internacional, onde vemos uma expansão muito grande. A gente consegue acertar duas necessidades dos investidores nesse sentido – ESG e internacionalização”, diz o executivo.
Os fundos de água e energia limpa são indexados em índices compostos por empresas. O primeiro replica o S&P Global Water 50 Index, índice que reúne 50 empresas globais voltadas, de forma positiva, ao negócio de água, enquanto o segundo espelha o ETF INGR, que tem uma seleção de 30 empresas globais de energia limpa.
Já a Carteira Itaú ESG é composta por ações globais, incluindo países emergentes e europeus, crédito americano, créditos de emergentes e tem também investimento em fundos de água e energia renovável. Segundo Eid, a esta carteira ESG tem uma redução de carbono de 50% em relação à carteira internacional convencional. Os produtos, por ora, são apenas para investidores qualificados e institucionais.
“Queremos ser protagonistas na transformação que a gente está vivendo quando pensamos na indústria de serviços financeiros. Foi um ano desafiador em todos os aspectos, mas um ano de uma construção de um legado super positivo”, comenta Eid.
Ainda em dezembro, foi lançado pelo BNP Paribas em parceria com a BlackRock o BNP Paribas Blackrock Estratégias ESG FIA IE, também voltado à temática da água. Mas, diferentemente do produto do Itaú, ele tem o maior parte do patrimônio (55%) alocado em um fundo ativo, o BNP Paribas Aqua Fund, que busca, ativamente, empresas no mundo que tenham seus negócios no mercado de água, especialmente em três frentes: infraestrutura, tratamento e serviços.
O restante dos recursos é aplicado no ETF da BlackRock IGSG (iShares Dow Jones Global Sustainability Screened UCITS), que replica a carteira do índice Dow Jones Sustainability World Enlarged Index.
Vale ainda comentar que as plataformas também se armam para facilitar a compra desses produtos. No fim de janeiro de 2021, o C6 Bank anunciou a distribuição de quatro produtos do tipo, em linha com a demanda do mercado.
Fundos como o da Itaú e BNP/BlackRock mostram sinais de sofisticação da indústria brasileira, já que são especializados em temas específicos dentro do ESG e voltados principalmente para diversificação de carteiras.
Há poucos dados sobre o tamanho da indústria de investimentos ESG no Brasil. A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), por exemplo, mapeia fundos de ações sustentáveis e de governança. Em junho de 2020 esta categoria somava R$ 543,4 milhões; em dezembro, já havia saltado para R$ 817,9 milhões, 46% de crescimento; e em janeiro ultrapassou o R$ 1 bilhão, quase o dobro de um ano antes. Mesmo assim, o segmento representa apenas 0,13% do patrimônio dos fundos de ações e apenas 0,01% da indústria de fundos de investimentos em geral.
Se no primeiro semestre do ano passado foram lançados seis novos produtos, no segundo semestre perdemos a conta. Veja as opções que o Valor Investe conseguiu mapear que estão disponíveis no mercado brasileiro:
Leia a matéria original do Valor Investe aqui.