Cartas
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Carta Macro Fevereiro 2025
Nos Estados Unidos, o ano de 2025 iniciou com cautela nos mercados, marcado por um aumento de volatilidade refletindo incertezas geopolíticas e dúvidas sobre o sequenciamento e abrangência das políticas do governo Trump. O governo concentrou o foco inicial em imigração ilegal, tarifas, guerra comercial, redução de regulações e burocracia. Porém, o tema das “tarifas de importação” foi o responsável pelo aumento da incerteza, com repercussões negativas nos mercados financeiros e na confiança dos agentes econômicos.
O aumento das tarifas de importação e das barreiras não tarifárias está sendo utilizado pelo novo governo para alcançar múltiplos objetivos, entre eles: controle das fronteiras com México e Canada, controle do contrabando de opioides como o fentanil, proteção de indústrias estratégicas (como aço e alumínio), segurança nacional, pressão geopolítica, correções de distorções no comércio internacional, tentativa de fomentar um comércio mais “livre e justo” com reciprocidade, e arrecadar impostos abrindo espaço no orçamento para acomodar as promessas de campanha.
Essa multiplicidade de objetivos e a forma desorganizada como a estratégia de protecionismo comercial está sendo divulgada e implementada geraram incerteza entre empresas, consumidores e investidores, podendo acarretar uma desaceleração mais forte da economia. Isso se soma às preocupações já existentes sobre o impacto das medidas nos preços de insumos e bem finais.
Os dados econômicos do início do ano mostram uma desaceleração moderada do consumo, inflação ainda elevada, um mercado de trabalho robusto e produção industrial e investimentos estáveis. O consumo mais fraco pode estar contaminado por efeitos climáticos e incêndios, mas também é possível que já reflita a perda de confiança dos consumidores. É fato que essa incerteza está refletida na performance dos ativos financeiros, com ações em queda, taxas de juros em queda, aumento da volatilidade, e queda do Dólar.
Diante dessa incerteza, o Federal Reserve deve manter a postura cautelosa em relação à atividade econômica, emprego e inflação, mantendo os juros estáveis até meados do ano. O Fed destaca a importância de manter as expectativas de inflação de longo prazo ancoradas, mas deixa espaço para possíveis cortes no segundo semestre de 2025, caso a economia desacelere.
No Brasil, apesar do cenário global conturbado, os mercados tiveram uma boa performance na primeira parte do mês de fevereiro, piorando na segunda metade. O índice Ibovespa teve queda de 2,6% no mês e a curva de juros ficou mais inclinada, com o DI Jan 27 abrindo 7 bps e o DI Jan 29 abrindo 33 bps. O Real, que vinha de uma valorização contra o Dólar desde janeiro, reverteu o movimento no fim de fevereiro, fechando a 5,89. No front doméstico, os dados de inflação vieram em linha com o esperado e a pesquisa Focus do Banco Central (BC) parou de piorar. Em relação aos dados de atividade, os números referentes a dezembro foram fracos e os primeiros indicadores de janeiro vieram mistos. De qualquer forma, já parece claro que está em curso uma desaceleração da atividade. O BC elevou a Selic em mais 100 bps na reunião de março e comunicou um aumento de menor magnitude para a reunião de maio. A partir daí deve ficar dependente dos dados, podendo parar se a inflação corrente moderar e se as expectativas para a inflação futura começarem a melhorar. No campo político, aguarda-se a tramitação do projeto de isenção do IR, sobretudo das formas de compensação fiscal. A popularidade do governo apresentou queda importante nas pesquisas recentes e há movimentação no sentido de trazer notícias boas para a população, como a isenção do IR, além do consignado privado e da liberação de FGTS.
Em 2025, os ativos financeiros brasileiros se “desligaram” dos problemas domésticos e se conectaram mais ao que está acontecendo no front externo. E nesse front, por enquanto, o comportamento dos ativos de países emergentes está sendo melhor do que o esperado. Em primeiro lugar, as moedas não se desvalorizaram frente ao Dólar, mesmo diante das ameaças constantes de tarifas por parte dos EUA. Além disso, a China também está se saindo bem, com moeda estável e bom comportamento das bolsas de valores, impulsionadas pelo entusiasmo em relação ao desenvolvimento da inteligência artificial. Os investidores externos aproveitaram as taxas de juros extremamente elevadas no Brasil para fazer posições aplicadas, que foram embaladas pelo bom comportamento do Real e pelos sinais consistentes de esfriamento da atividade. Dessa forma, houve uma pausa importante no estresse financeiro que vinha ocorrendo no fim do ano passado e que culminou em dezembro, com saídas expressivas no balanço de pagamentos. O risco, daqui para frente, parece residir em um esfriamento mais forte da economia americana, com possível correção mais expressiva do mercado acionário. Se isso não ocorrer, poderemos ver a continuidade por mais algum tempo do bom comportamento das moedas e dos mercados emergentes.