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Mídia‘BC tentou arrumar forma de agradar a todos’, diz Fernando Rocha, da JGP
Copom ajustou comunicado para dizer que cenário de retomada de altas é menos provável, mas se manteve cauteloso no restante do texto, diz gestor
Por Victor Rezende
Com um comunicado que manteve um tom mais duro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central “tentou arrumar uma forma de agradar a todos”, aponta o economista-chefe da JGP, Fernando Rocha. “Ele conseguiu múltiplos objetivos sem sacrificar nenhum lado”, enfatiza.
O cenário básico da JGP inclui cortes de juros com início em setembro, mas Rocha faz alerta em relação à atividade. “Se o PIB vier forte, o Copom vai ter que mudar o tom”, diz o economista em relação ao desempenho forte visto recentemente em dados de atividade.
“Se começarmos a ver uma melhora que afete núcleos de inflação, a vida do BC pode se tornar mais fácil”
Fernando Rocha: O Copom tentou arrumar uma forma de agradar a todos. A indicação de que ele poderia retomar o ciclo de ajuste estava causando polêmica e, por isso, ele fez uma pequena modificação, dizendo que é um cenário menos provável. O Copom foi um pouco político nisso e pode conseguir algum agrado na parte política do governo. E, no restante do comunicado, ele se manteve bem cauteloso, quase “hawkish”, no jargão do mercado, ao dizer que o arcabouço fiscal precisa ser aprovado no Congresso; que não é automática uma melhora da inflação após o arcabouço e que isso precisa se refletir nas expectativas, que estão fora da meta; e que isso torna mais difícil o ambiente de desinflação. O desenvolvimento verbal do Copom continuou bem duro.
Valor: O tom bastante conservador deve agradar ao mercado?
Fernando Rocha: Tenho a impressão de que ele conseguiu fazer um documento que tenta agradar a todos. O mercado vai ler que o Copom continua duro e que não está cedendo, além de estar comprometido com a meta. E, do ponto de vista do governo, o Copom colocou que o cenário de subir juros é menos provável. Gostei do comunicado. Ele conseguiu múltiplos objetivos sem sacrificar nenhum lado.
Valor: O BC citou uma desaceleração da atividade, mas temos visto dados bem mais fortes…
Fernando Rocha: Dois indicadores que vieram na semana passada balançaram um pouco o meu cenário de desaceleração da atividade: o IBC-Br de fevereiro e o Caged de março, que veio fortíssimo. São indicadores muito recentes e, talvez por isso, o Copom tenha optado por não sair dos trilhos, já que não há evidências de que tenha havido uma modificação do cenário que vinha desenhando, que era de atividade mais fraca. Se tivermos uma sequência de mais um ou dois indicadores ou mesmo se o PIB vier forte, o Copom vai ter que mudar o tom.
Valor: A JGP também espera um cenário de crescimento mais forte?
Fernando Rocha: No meu cenário, o PIB agrícola está fazendo a diferença. A renda agrícola deve estar fortíssima por causa da safra espetacular e estamos vendo isso se refletindo na balança comercial. No meu cenário, tenho um crescimento de 1,5% neste ano, mas, se o PIB surpreender no primeiro trimestre e mostrar um crescimento de cerca de 1%, como indicou o IBC-Br, o Focus vai começar a mostrar revisões para cima de PIB e eu também tenderia a elevar a minha projeção, até para 2%, talvez. O cenário parecia ser de desaceleração, mas, mesmo que seja por causa da agricultura, temos agora um ponto de interrogação.
Valor: E em relação à inflação e às expectativas? Elas continuam centrais em relação aos próximos passos da política de juros?
Rocha: O Copom tem dado muito peso para as expectativas de inflação do Focus. A experiência mostra que o Focus segue muito a inflação corrente e, por isso, estou dando mais peso a ela. Se começarmos a ver uma melhora que afete os núcleos, a vida do BC pode se tornar mais fácil e, aí, ele passaria a cortar os juros com mais tranquilidade. Isso vai ser determinante. Além disso, podemos ter uma situação de crescimento mais forte e inflação melhor. A atividade passa a ser secundária e a inflação se torna central. Tudo vai girar em torno disso, inclusive as expectativas.
Valor: Quando o Copom conseguirá começar a reduzir os juros?
Rocha: Eu pensava que o Copom poderia cortar os juros em novembro, mas migrei para o início da redução da Selic em setembro. Antecipei o meu cenário principalmente depois do IPCA de março, que mostrou um qualitativo bom e, além disso, as commodities tinham caído e o câmbio se aproximou de R$ 5 por dólar. No entanto, não gostei muito do IPCA-15 de abril e ainda vimos os dados fortes de atividade. Continuo na pista de que o Copom pode cortar os juros em setembro. Agosto parece ser muito cedo. A possibilidade existe, mas é baixa. Setembro é mais provável. E, neste momento, se eu tivesse que mudar minha projeção para agosto ou novembro, eu adiaria a expectativa de início dos cortes para novembro.
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