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Mídia22 pílulas de sabedoria de André Jakurski
Por Valor Investe
Por Luciana Seabra
Muito mais otimista do que estava há alguns meses, dado o avanço das vacinas, ainda que um pouco frustrado com o encaminhamento delas nos emergentes; mas menos positivo em relação à possibilidade de grandes avanços nos mercados – foi como André Jakurski, fundador e gestor da JGP, definiu seu sentimento atual na nossa Quarta com Gigantes de ontem.
“É quando você está na situação de desespero que os ativos estão baratos. Agora tá todo mundo confiante, todo mundo animado… Quando você olha o posicionamento das pessoas nos mercados centrais e até nos emergentes, o pessoal, como se diz na gíria, tá com a lata cheia. Então não tem tanto dinheiro assim vindo pro mercado pra fazer os ativos subirem”, disse Jakurski, conhecido por muitos como o maior trader brasileiro.
Engenheiro mecânico, Jakurski foi um dos fundadores do Pactual, em 1983, tendo como um de seus sócios o atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Em 1998, fundou a JGP, reconhecida pela consistência de seus fundos – retorno atraente no longo prazo com menos volatilidade do que a média de seus pares.
As mais de 5 mil pessoas que viram a conversa desde ontem haverão de concordar comigo: assistir é obrigatório. Você ainda pode fazê-lo aqui.
Jakurski citou alguns grandes temas que precisam estar no nosso radar de investidores: envelhecimento da população, que deve levar a problemas de crescimento econômico; confronto entre as megapotências China e Estados Unidos e a construção de dívidas colossais pelos países.
Olhando para os ativos brasileiros neste começo de ano – juros esperados e Bolsa para cima, real para baixo – qual está mentindo? “Eu diria a Bolsa”, respondeu.
O gestor não vê motivos para o Brasil degringolar no horizonte visível, dos próximos dois anos, mas vê sentido nos juros para cima – ninguém esperava que a inflação tivesse subido com tanta velocidade. No portfólio, tem posições pequenas em juros prefixados e indexados à inflação.
Na frente cambial, acha que o real em alguns quesitos “parece estar de graça” e que a tendência do dólar teoricamente é se desvalorizar, mas ressalta a imprevisibilidade das moedas. “Volatilidade do câmbio no Brasil é volatilidade de ações, não de moedas. É matar ou morrer. Você entra no quarto escuro com outro cara, cada um com uma foice. Quem der a foiçada primeiro leva”.
Sobre a rotação dos mercados globais de tecnologia para cíclicos e commodities, disse que parece que ainda dá tempo de entrar. “Alguns setores ainda podem se beneficiar das políticas democratas. Transportes, materiais, commodities ainda podem subir, mas, quando você olha o quanto já subiram, dá vertigem, né?”.
Na Bolsa americana, Jakurski tem algumas ações cíclicas e também cita turismo do lado positivo. Do lado negativo, vê possibilidade de desvalorização adicional de empresas como Facebook e Twitter, dada a pressão previsível de serem responsáveis pelo que publicam.
Sobre o tão falado superciclo de commodities, disse que depende do que a China vai fazer e considera que uma boa parte do que podia acontecer já aconteceu. “Quando falam de um superciclo de commodities, normalmente as pessoas falam de coisas que já aconteceram”, disse, citando a alta recente de preços como a do cobre e do minério de ferro.
O gestor também destacou que tem uma boa liquidez no momento no portfólio, esperando uma oportunidade.
Perguntado sobre criptomoedas, Jakurski disse que tem a mesma opinião sobre um quadro de Picasso ou Rembrandt: pode subir como pode cair, porque não tem valor intrínseco. A teoria que foi vendida é a da escassez, quem faz o preço é o comprador.
“Isso não é reserva de valor, é uma brincadeira, um ativo que nem Tesla, que nem outro ativo especulativo, oscila muito. Não é reserva de valor, isso que é importante as pessoas entenderem. Quer brincar, brinca, mas não é reserva de valor. As pessoas dizem: vai ter inflação no mundo, então vou me proteger como bitcoin. Errado. Porque você pode perder 90% ou mais de seu investimento de um dia para o outro”, disse.
Mas meu objetivo nesta newsletter não é fazer um resumo, porque não estaria à altura da conversa, e sim listar algumas pílulas de sabedoria atemporais que Jakurski deixou para nós, investidores:
- Quando os mercados estão no ponto mais alto não toca uma campainha.
- Muito difícil você à priori acertar as tendências, só se você for mágico.
- O cemitério está cheio de traders que tentaram descobrir a virada.
- O interessante é, se você for perspicaz, conseguir montar no cavalo na hora em que ele já está disparando, não quando ele está na coxeira, porque ele pode ficar ali durante meses ou anos.
- Tem grandes oportunidades para perder dinheiro todo dia.
- É impossível prever o futuro. As pessoas que fazem previsão do futuro estão brincando, porque ninguém vai cobrar delas o que elas disseram.
- Qualquer mercado nunca anda em linha reta. Mercado de alta tem correções e mercado de baixa tem correções.
- As pessoas dizem assim: dinheiro é lixo. Tem momentos em que dinheiro pode ser uma boa reserva de valor, como quando os ativos estão esticados. Se aparecer oportunidade e você está todo aplicado, não tem como aproveitar.
- As grandes oportunidades são quando as coisas degringolam, não quando está todo mundo eufórico.
- Sobre ESG, tem muita gente que diz: se você restringir universo de investimento, vai ter rentabilidade menor. Pode ser ledo engano, porque à medida que o capital for pras empresas que têm melhores práticas, elas vão tender a se valorizar mais do que as que estão sendo abandonadas. E oferta e demanda afetam o preço.
- Como você pega as tendências? Lendo bastante. Quando você olha os gráficos de alguns ativos que subiram bem, eles telegrafaram o que ia acontecer. Quando você junta isso com algumas pessoas mais preparadas falando sobre o assunto, analistas, por exemplo, consegue chegar mais cedo. Quando sai na primeira página do jornal, já era, esquece que a tendência já está bem adiantada.
- O mercado financeiro é muito frustrante, porque não é linear. Não é como engenheiro, que, se fizer tudo direito, o prédio fica de pé. Aqui você pode fazer todas as análises corretas e ainda perder dinheiro. É uma arte, não é uma ciência.
- O maior inimigo no mercado financeiro é você. Seu psicológico, sua cabeça, os seus impulsos é que te matam. Se você tiver uma forma de desenvolver um controle muito forte dos seus instintos, você pode suceder.
- Você tem que amar o negócio porque são muitas as frustrações. Você está sempre insatisfeito: quando dá certo, comprou pouco; quando dá errado, comprou muito. Não é brincadeira, não: você tá sempre chateado. Se você não tiver capacidade de resiliência pra aguentar isso por muitos anos, aí desiste.
- Tem épocas, quando o mercado está eufórico, em que tudo dá certo, mas tem que lembrar que tem outras épocas em que é uma pauleira danada. Tem que tomar muito cuidado pra não confundir um mercado de alta com inteligência e preparo.
- A recomendação que eu faço é o teste da sexta-feira. Se chega sexta-feira e você está louco pra chegar segunda pro mercado abrir, talvez você tenha chance nesse negócio.
- Eu repito erros frequentemente, menos do que fazia no começo, mas às vezes você se empolga e faz uma besteira. Você tem pelo menos cinco minutos de burrice por dia, não faça nada nesses cinco minutos.
- Como as pessoas quebram? Quando não têm stop ou colocam uma quantia gigantesca alavancada no mercado. Uma ação pode oscilar de 30% a 40% em período curto. E não precisa ser pequena a empresa. Se você olhar o histórico dos últimos 10-15 anos, a Amazon do high pro low teve queda em todos eles de 30% a 40%. Então, se você está alavancado, não vai sobreviver.
- Leia muito sobre psicologia de mercado, ela ensina você a se defender de você mesmo. Porque você é o seu pior inimigo. Se você conseguir domar seus instintos, tem chance muito maior de dar certo.
- Você não pode vender quando já não aguenta mais, tem que vender quando sente que fez o trade errado.
- Você pode até ter um número de erros maior do que o de acertos, mas quando acertar tem que ganhar um bom dinheiro. E, quando errar, perder pouco.
- A tendência das pessoas é, quando está subindo, querer ter desesperadamente 150% do patrimônio investido em ações. Tá errado. Deixa os outros ganharem também, não queira ganhar tudo sozinho. É uma forma de evitar os desastres.Leia a matéria original do Valor Investe aqui.